quarta-feira, 27 de junho de 2012

Curadores de Dores



Sexta feira Santa. A corrente mediúnica se reúne para falar sobre Jesus e sobre seu Renascimento através da passagem (Páscoa).
Um palestrante irradiado por seu guia espiritual explanou sobre a vida do Mestre e sobre sua trajetória terrena de forma iluminada. Depois um pequeno ritual com os elementos e a distribuição de grãos de uvas imantadas, simbolizando a comunhão entre os irmãos ali presentes.
Uma atmosfera de brandura e paz se fez no ambiente, podendo-se sentir a presença dos espíritos luzeiros assistindo o evento, bem como o amparo àqueles que do outro lado, ali estavam buscando conforto para suas almas. Já era hora de encerrar, quando a médium sentiu as vibrações fortes de sua protetora e sua necessidade de se fazer presente no local, através daquela mediunidade. Era a preta velha, Vovó Benta que nos trazia a bênção de sua presença sempre tão bem vinda:
-Salve os filhos deste terreiro! Negra Velha é muito “inxirida” e não podia deixar passar essa oportunidade sem lhes dar uma mensagem. Até porque, o faço a pedido do Sr.Xangô que é o regente oficial desta casinha de caridade. Primeiramente, em nome dos espíritos que trabalham junto a vós, agradeço pelo momento de luz que criaram, propiciando auxílio a tantos quantos nem imagineis. E, com a permissão do Sr. Xangô, essa negra precisa lhes contar uma pequena história sobre a falta de humildade que já carregou na vida. -Nos idos tempos da escravidão, este espírito ocupava um corpo físico de formas perfeitas e o exibia não só entre os negros da senzala que disputavam até um olhar seu, como também provocava o sinhozinho e seus capatazes brancos. A sensualidade era sua marca e isso transparecia desde o andar até a maneira de falar e olhar. A juventude e a beleza de sua pele negra arrecadavam para si, ciúmes e inveja das outras mulheres.
Um dia, um negrinho foi mordido por cobra venenosa e por falta de remédios e cuidados de higiene, seu pé apodrecia de infecção.
Eu era a única poupada de trabalhar na lavoura e sendo assim, me encarregaram de efetuar a higiene do pé do menino e passar o remédio que as negras haviam feito. Aquilo me anojava muito e me neguei ao trabalho. Em pouco tempo o menino morreu e então começou meu inferno. Em sonhos, eu o via chorando e se lamentando de dor e toda a alegria que eu possuía foi se indo embora.
Um dia, enquanto colhia frutas para sinhazinha, pisei num espinho venenoso e meu pé infeccionou. Remédio nenhum conseguia amenizar a dor e o inchaço. Meu remorso aumentava, pois agora mais ainda, eu sabia o que era padecer sem consolo.
Numa noite, no delírio da febre alta, senti a presença do menino morto. Ele trazia um pote de água, um pano muito alvo em suas mãos e largo sorriso no rosto.
Olhei para seus pés e eu não os enxergava, pois o negrinho flutuava numa névoa translúcida. Chegou-se até meu leito e começou a lavar meu pé, o que proporcionou alívio imediato. Enquanto fazia isso, cantarolava um lamento negro que costumávamos ouvir na senzala quando ainda éramos crianças, cantado pelos negros mais idosos. Ao terminar, o negrinho ajoelhou-se e beijou minha ferida purulenta, deixando ali sua saliva curativa e me disse:
-“Bentinha, amanhã suncê vai tá boa. Mas neguinho vai fazê pedidô: num esquece de rezá pras almas dos nego desamparado e cumeça a benze”. Me curei da ferida do pé e atendi o pedido daquele espírito.
Comecei a benzer , embora isso não aliviasse minha culpa por o ter deixado morrer. Carreguei-a além túmulo. Porém, mesmo ajudando aquele povo, a vaidade que a beleza me dava, obscurecia minha visão e fechava meus ouvidos. Não havia ainda curado a pior ferida da minha alma: - O Orgulho.
Quando cheguei no mundo dos mortos, me mostraram uma cena:
-Nosso Senhor Jesus Cristo lavando os pés dos discípulos na véspera de sua paixão e morte. Por isso meus filhos, longe de me comparar à figura transcendente de N. Senhor, eu quero neste dia, pedir licença a todos para lavar vossos pés em frente a este congá. E lavando vossos pés, quero lavar as feridas que ainda carregais na alma, para aliviar a dor desta minha ferida. E assim, provocando lágrimas de emoção, Vovó Benta solicitou um alguidar com água, colocou nele folhas de manjericão e lavou, secou e beijou os pés de cada médium da corrente.
Como médium consciente, consegui captar do espírito toda a necessidade que ela ainda trazia, - embora já tendo evoluído e estando trabalhando nesta egrégora de luz que é a linha dos Pretos Velhos - de curar sua alma ferida numa encarnação onde não se permitiu salvar uma vida. Vida essa que veio salvar a sua, demonstrando uma lição ímpar de humildade e amor incondicional. E me fez repensar naqueles mendigos mal cheirosos que encontramos nas ruas das cidades e que nos causam repulsa. Em quantos deles não estarão espíritos que, ou já nos socorreram ou servirão de socorro num futuro que pode ser amanhã?
O orgulho e a empáfia nos tornam cruéis diante da vida e dos seres. Aqui, escolhemos a dedo quem merece nosso olhar, nosso sorriso, nossa atenção, nosso respeito. De certo, da mesma forma, seremos tratados acolá. Curadores de dores... é o que deveríamos ser. Porém, muito mais somos nós, julgadores e criadores de marcas, que serão dores a drenarmos num próximo corpo, se assim tivermos a sorte de tê-lo no futuro.
Paz a todos!

Leni W.S. 

As Crianças na Umbanda



É muito comum presenciarmos as manifestações de espíritos de crianças dentro dos cultos Umbandistas.
Doces, brincadeiras e simplicidade marcam a presença destes espíritos que de Aruanda vem nos brindar com sua alegria contagiante.
Mas o que realmente podemos entender por esta manifestação? Qual o seu real fundamento?
Nem todos os espíritos que se manifestam na linha das crianças na Umbanda em sua ultima encarnação foram uma criança, isso a primeira vista parece um tanto quanto absurdo para aquele que tem sua visão limitada, mas tomando como base de estudos a doutrina dos espíritos, veremos no LIVRO DOS ESPÍRITOS (primeiro livro sobre a doutrina espírita publicado pelo educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, em 18 de abril de 1857, sob o pseudônimo Allan Kardec) e no LIVRO DOS MÉDIUNS (é a segunda das cinco obras básicas do espiritismo, publicada em 1861, na França, por Allan Kardec) que o espírito pode se manifestar ou usar uma roupagem fluídica que o mesmo se indetifique melhor e seja mais bem aceito no meio onde se manifeste. Tomando como base esta informação, vemos que muitos e não todos os espíritos que se manifestam dentro da Umbanda não foram realmente uma criança em sua ultima encarnação e isso é simples de explicar. A criança carrega consigo o símbolo da pureza, do amor, da alegria.
Quando tomamos as palavras de JESUS em LUCAS "Deixai as crianças virem a mim e não as impeçais, pois a pessoas assim é que pertence o Reino de Deus.” Lucas 18,16" compreendemos que a manifestação destes espíritos tem a finalidade de renovar, de educar, de curar dores morais, espirituais e físicas através de sua simplicidade.
Como infelizmente o estudo dentro da mediunidade de Umbanda ainda é precário presenciamos muitos médiuns que como em outras manifestações deixam a "criança que está dentro de si" se manifestar e adotam posturas e palavreado que "nem sempre" estão em acordo com os espíritos de crianças.
Uma criança dentro da Umbanda pode trabalhar com desobsessões, transmutação de mágoas, curas físicas e energéticas e limpeza de energias densas de ambientes e pessoas, bastando muitas vezes somente uma oração para evocá-las.
Os doces e demais guloseimas que são ofertados a estas entidades servem como uma simbologia da alegria, do prazer de viver e do colorido que contagia a todos, lembrando novamente que espírito não tem matéria então espírito não come, porém, o impacto visual atua as vezes de forma mais rápida naquele que "precisa ainda ver para crer".
É preciso entendermos que a manifestação das crianças na Umbanda vem com um propósito divino de renovação e nos deixa uma lição para aprendermos na vida a cultivar o lado simples das coisas, pois é ai que encontramos a figura de Jesus que sempre trilhou seu caminhar dentro da simplicidade e humildade.
O que você deve ofertar aos Erês? Seu amor e sua fé, seu respeito e sua caridade para com o seu semelhante.
Salve as crianças!!!!!! As minhas crianças!!!!!!

Texto de Géro Maita

Mironga de Umbanda para problemas afetivos.


Por Fernando Sepe
Mironga é como chamamos o feitiço de preto-velho, a mandinga de negro em favor aos filhos que o procuram. Aqui vão algumas mirongas que essa nêga véia tem a ensinar para resolver as dificuldades do coração. Leia tudo com muita atenção e principalmente, aplique isso no seu dia-dia. Grande é a força dessas pequenas dicas…
1 – Aprenda a viver sozinho. Caso você não consiga nem viver consigo mesmo, como poderá levar felicidade e alegria para outra pessoa? Primeiro relacione-se com seu eu interior. Depois busque alguém.
2 – Assuma a responsabilidade pelo seu relacionamento. Não é magia, inveja, ciúmes de terceiros, etc, que irá separar aquilo que o amor uniu.
3 – É claro que também nenhuma simpatia, reza ou trabalho irá unir ou “amarrar” aquilo que a falta de carinho desuniu.
4 – Simplificando: quem procura as coisas ocultas para resolver pro­blemas sentimen­tais é imaturo. Ruim do juízo e doente do cora­ção.
5 – Desapegue-se! Ser humano é um bicho apegado. O único pro­ble­ma: amor é um senti­men­to livre. Um eterno querer bem. Um carinho incondicional. Quase um sentimento de devoção. Se você “gosta” tanto de alguém, que prefere ele “morto” do que feliz com outra pessoa, escute: Isso não é amor! Simples ilusão disfarçada…
6 – Aprenda que ninguém irá te completar. Você já é completo! Mas quando um relacionamento é calcado no mais puro amor, muito do amado vive no amante, e muito do amante pra sempre viverá no amado. Quer milagre maior que esse?
7 – Melhor sozinho do que mal acompanhado! Sabedoria popular, mas o que têm de doutor e doutora que não consegue entender isso.
8 – Ponha o pé no chão e esqueça essa história de alma gêmea. Pare de enfeitar suas próprias desilusões com devaneios ditos espiritualistas. Encare a realidade de frente.
9 – A vida vai passando, com ele/a, ou sem ele/a. E a morte se aproximando…
10 – Por isso, vão viver a vida meus filhos! Quem sabe ela não está guardando um presente para vocês? Não existe mironga maior que essa…

Umbanda: A Senhora das Mil Faces


Escrever sobre a Umbanda não é tarefa para leigos, repórteres ou curiosos. Estes, por falta de percepção, sensibilidade ou de conhecimento vêm a Umbanda como um emaranhado de práticas oriundas das mais diversas religiões. Jamais pararam para se perguntar por que um culto, por eles mesmos tratado como fetichista, pode atrair milhões de pessoas. Diriam até que seria pelo aspecto etno-cultural das mais diversas classes sócio-culturais. Que mistério há por traz desses ritos que consideram confusos e destituídos de bom senso? Por que tantos a atacam? É preciso conhecer seus aspectos fenomênicos, magísticos, mediúnicos, ritualísticos, doutrinários e filosóficos, nas suas causas. É preciso também que se tenha um vivencial do dia-a-dia de seus terreiros e templos. Raros, raríssimos são os que têm essa experiência. Enquanto a Umbanda se abre num leque de mil cores, muitos se interessam apenas pela qual se afinizam, certos de que é a melhor. Outros pretendem impor um determinado ritual porque é aquele que lhes trás mais benefícios.
Quem quiser, apenas de longe, saber o que a Senhora das Mil Faces representa para o povo brasileiro, basta ver o que acontece nas praias na passagem do ano. Lá se encontram ricos, pobres, brancos, negros, mestiços, todos juntos, acendendo suas velas, e ofertando flores a Yemanjá, pedindo que o ano lhes seja propício. Esta manifestação colossal é peculiar, é própria da fé ou da mística umbandista. Muitos se aproximam da Umbanda pois pressentem sua força, sua magia, seu poder de transformação. A Umbanda aceita e respeita as necessidades de cada grupo naquilo que os faz sentirem-se unidos ao Sagrado. Por isso Ela parece tão variada em suas manifestações, pois cada unidade-terreiro exprime com fidelidade as necessidades daqueles que ali acorrem. Para muitos esta maleabilidade é confundida como uma mistura desconexa, mas na verdade apenas traduz, em seus aspectos mais profundos, um motivo: atingir a síntese do conhecimento humano, lembrar a todos que como Caboclo, Preto-Velho e Criança, também somos espíritos eternos e imortais e que cada existência nos serve de aprendizado e aperfeiçoamento para vidas futuras, caminhando rumo à nossa realidade. Esta é a Umbanda do povo brasileiro.
As tentativas de codificação da Umbanda tem sido infrutíferas, pois esta religião é um grande caminho onde se amalgamam pessoas de todos os níveis sociais, culturais e intelectuais. Enquanto para alguns, os cultos mais populares falam mais alto ao seu grau de consciência, outros se encontram espiritualmente nos ritos esotéricos e iniciáticos umbandistas. A Umbanda é uma só, independente do tipo de terreiro ou culto. O Astral Superior atende a todos que a ela recorrem. Para entender melhor basta lembrarmos das sábias palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas:
A Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade; da mesma forma como Maria ampara nos braços o filho querido, também serão amparados os que dela se socorrerem.

Por: Diamantino Fernandes Trindade (Hanamatan)

terça-feira, 5 de junho de 2012

Iniciantes na Umbanda


Toda a pessoa que escuta es­ta frase: “Você tem que vestir bran­co, e precisa de­sen­volver a sua mediuni­dade”.  Pronto! Aí vem o medo e ao mesmo tempo a ansiedade, imagi­nando-se vestido de branco e já incorporando “seus guias”, ele julga que após poucas semanas já estará apto a “trabalhar” dando  “consulta”… Será que é só colocar o médium “novo” no meio da gira e girar?  Ou será que ele precisa primeiro de atenção, carinho, ajuda e esclareci­mento neste mo­mento único e delicado de transição dos seus valores reli­gio­sos, e principalmente de doutrina, acres­cido de tempo e humildade de ambos os lados, seja do dirigente para com o filho pequeno (que nasce para a espiritua­lidade) e precisa ser cuidado com amor. Ou por parte do filho que precisa de conhecimento e isto só é con­seguido através do estudo, movido pela paciên­cia, humildade e fé, pois só assim con­seguirá de fato ser um filho de fé da Umbanda Sagrada.  Como as giras de desenvolvimento fazem parte deste processo mediúnico comentarei sobre os recursos rituais: atabaques, cantos, defumações, dan­ças, roupa branca, etc.

Defumações: descarregam o cam­po mediúnico e sutilizam suas vibra­ções, tornando-o receptivo às energias de ordem positiva. Ela é essencial para qualquer tra­ba­lho num terreiro, pois certas cargas se juntam (agregam) ao nosso corpo astral durante nossa vivência cotidiana, ou seja, pensamentos e ambientes de vi­bração pesada, rancores, preocupa­ções, pen­samentos negativos, etc., tu­do isso produz (ou atrai) certas formas-pensamento que se aderem ao nosso campo eletromag­nético, bloqueando trans­missões energéticas. Pois bem, a defumação tem o poder de desagregar estas cargas, através dos elementos ar, fogo e vegetal que a compõe, pois interpenetra o campo as­tral, mental e a aura, tornando-os no­va­mente “libertos” de tal peso para pro­duzirem  seu funcionamento normal.

 Palmas: Se cadenciadas e ritma­das, criam um amplo campo sonoro cujas vibrações agudas alcançam o centro da percepção localizada no mental dos médiuns. Com isso, os predispõem a vi­brarem orde­nadamente, facilitando o tra­balho de reajus­tamento de seus pa­drões magnéticos.

 Cantos: a Umbanda recorre aos can­­tos ritmados que  atuam sobre al­guns ple­xos, que reagem aumen­tando a velo­cidade de seus giros. Com isso, cap­tam muito mais energias etéricas, que sutilizam rapidamente todo o campo mediúnico, facilitando a incorporação. Os pontos can­tados  são uma das primeiras coisas que afloram a quem vai a um ter­reiro de Um­ban­da pela pri­mei­ra vez.  Os pontos canta­dos são, den­tro dos ri­­tuais, um dos aspec­tos mais im­por­tantes para se efetuar uma boa gira. São louvações e orações canta­das, para chegada  dos Orixás e guias, tam­bém para descarga e limpeza fluí­dica, bem como para a subida dos Orixás e guias. Um verdadeiro ponto cantado nos atin­ge lá den­tro do coração e da emo­ção, nos trazendo paz, fé, pela pureza e firmeza desses pontos maravilhosos.

 Atabaque: As vibrações sonoras têm o poder  de adormecer o emocional, estimulando a sensibilidade, modifi­can­do as irradiações  energéticas, atuando  sobre o padrão  vibratório do médium, após esta mudança o mentor aproveita esta facilidade e adentra no campo ele­tromagnético, igualando-se  ao padrão  e  fixando-o no mental de seu médium, direcionadamente. Em pouco tempo o médium, entra em sintonia magnética para a incor­poração. Existem vários tipos de toques: • suaves e cadenciados (renovação afetiva e amorosa); • vibrantes (descarrega); • sons alegres (predispostos ao bom humor)
Danças: A Umbanda recorrem  às “danças ri­tuais” pois, durante seu transcorrer, os médiuns se desligam de tudo e se concentram intensamente numa ação onde o movimento cadenciado facilita seu en­volvimento mediúnico. Nas “giras” (danças rituais), as vibrações médium-mentor se ligam de tal forma, que o espírito do médium fica adormecido, já que é paralisado momentanea­mente. No princípio, o médium sente ton­turas ou enjôos, mas estas reações cessam se a entrega for total e não houver tentativa de comandar os movi­mentos, já que seu mentor quem o comandará. Nada é por acaso. Se o ritual de Umbanda optou pelo uso de atabaques, cantos e danças ritual, há todo um comando pelos senhores do alto dando amparo e sustentação.

 Roupa Branca: O branco é a cor de Oxalá, que é o regente da Fé, da religiosidade dos seres da pureza, da humildade, da benevolência, da paciência da fraternidade da união e da caridade… O simbolismo da veste branca é bem visível, além de permitir uma uniformidade na apresentação do corpo mediúnico. Mas, se alguém se veste de branco e assume o grau de médium, dele também se exige que purifique seu íntimo, reformule seus conceitos a respeito da religiosidade e porte-se de acordo com o que dele esperam os Orixás Sagrados, pois estes que o ampararão daí em diante. O fato é que a Umbanda como uma religião possui seus próprios rituais ,suas próprias característica, e suas práticas. Desenvolver a mediunidade não significa dar algo a quem não está habilitado para recebê-lo, mas sim, em habilitar alguém a assumir conscientemente o dom com o qual foi ungido.

Saravá Umbanda! Um grande abraço.

Por Mônica Berezutchi.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Desmistificando as Pombas Giras


QUEM É A POMBA GIRA

Quem são as Guardiãs Pombas Gira?
Vamos falar bem reduzidamente o que seriam as Guardiãs Pombas Gira:

Se os Guardiões Exus são marginalizados, mais ainda são as senhoras Guardiãs Pombas Gira.
Há muitas pessoas que as associam com prostitutas, ou simplesmente, mulheres que gostam de se expor aos homens e sedentas por sexo. As distorções e preconceitos são características dos seres humanos quando eles não entendem corretamente algo, querendo trazer ou materializar conceitos abstratos, distorcendo-os. Essas nossas irmãs em Deus nada mais são que espíritos desencarnados, que como os Exus, viveram na Terra e hoje, por afinidade fluídica, militam como mais uma corrente de trabalho portentosa dentro da Umbanda.
Não temos culpa se certos “médiuns” medíocres dão passividade para quiumbas ou mesmo fingem uma incorporação de uma Guardiã Pomba Gira, para serem aceitos e terem suas opiniões e mesmo trejeitos aceitos pela comunidade religiosa. Com certeza, exteriorizam somente aquilo que suas mentes doentias acham serem certos.
Dentro da hierarquia das Guardiãs Pombas Gira, estão divididas em níveis diversas outras Pombas Gira, da mesma forma que as demais legiões. É claro que em alguns casos podem ocorrer que uma delas em alguma encarnação tivesse passado pela experiência dolorosa de ser uma prostituta, mas, isso não significa que as Guardiãs Pombas Gira tenham sido todas prostitutas e que assim agem. As que foram, hoje estão integradas na Umbanda, a fim de realizarem a grande reforma íntima através da caridade e do mediunismo redentor.
Não se torna uma Guardiã Pomba Gira pelo simples fato de se ter errado perante as Leis Divinas. Afinal, quem nunca errou na vida? Ser uma Guardiã Pomba Gira exige preparo, conhecimento, magia, discernimento e muito amor. É mais uma corrente de trabalho espiritual na Umbanda, onde espíritos seletos atuam na faixa vibratória que mais se afinizam.
As Guardiãs Pombas Gira não são a representação da sexualidade e nem da sensualidade, mas sim frenam os desvios sexuais dos seres humanos e direcionam essas energias para a construção da espiritualização, evitando a destruição espiritual e material de cada ser.
A sensualidade desenfreada destrói o homem: a volúpia. Este vício moral é alimentado pelos encarnados e desencarnados pela invigilância das Leis de Deus, criando um ciclo ininterrupto, caso as Pombas Gira não atuem neste campo emocional, frenando-o e redirecionando-o.
As Guardiãs Pombas Gira são grandes magas e conhecedoras das fraquezas humanas. São executoras da Lei.
Cabem as Guardiãs Pombas Gira esgotar os vícios ligados ao sexo, equilibrando o ser humano.
Gostaríamos de salientar que as Guardiãs Pombas Gira não são Exus fêmeas como dizem muitas das literaturas encontradas, mas sim, é mais uma das hierarquias de Deus;
Tudo que se refere ao estudo sobre os Guardiões Exus vale também para as Guardiãs Pombas Gira, ou seja, elas se manifestam na Umbanda através de espíritos incorporados as suas hierarquias. Elas são elementos mágicos ativados através de oferendas e elementos religiosos quando ativados num Templo. Também são agentes da Lei de Deus que podem ser ativadas pela Lei Maior. Os Guardiões Exus vitalizam/desvitalizam, as Guardiãs Pombas Gira esgotam o emocional ou despertam o desejo.
As Guardiãs Pombas Gira de Trabalho são tão maravilhosas quanto os Guardiões Exus. Elas realizam curas até mesmo de enfermidades dadas como incuráveis, desmancham trabalhos de magia negra, resolvem problemas, nos dão conselhos preciosos de como bem dirigir nossas vidas, enfim, fazem tudo pelas pessoas bem intencionadas que as procuram para a prática da caridade. È uma pena que ainda existam pessoas que as procuram somente para desmanchar relacionamentos amorosos ou conquistar alguém.
Como nossos irmãos Guias Espirituais, os Guardiões Exus, e as Guardiãs Pombas Gira, quando terminarem o círculo de trabalhos espirituais e permanência nas correntes de trabalho na Umbanda irão para uma faixa de espiritualidade superior, e serão conduzidas pelas Leis do Eterno Amor para o seu verdadeiro destino, a sua perfectibilidade e a verdadeira e eterna felicidade nas moradas do Senhor. Por isso, considerando que as Guardiãs Pombas Gira são criaturas como nós, filhos de Deus, considerando que bem orientadas por Orixás, e Guardiãs Pombas Giras de Lei trabalhem somente para o bem, devemos tratá-las com todo carinho, respeito, procurar compreendê-las e conduzi-las (as não esclarecidas. As que estão iniciando o seu caminho rumo a espiritualidade maior) para o caminho da redenção.

A Legião das Guardiãs Pombas Gira atuam:

• Nas descargas para neutralizar correntes de elementares/elementais vampirizantes, bem conhecidos como súcubus e íncubos, que atuam negativamente, por meio do sexo, fazendo de suas vitimas verdadeiros escravos das distorções sensuais.

• Cortando trabalhos de magia sexual negativa e as ditas “amarrações”, pois ninguém deve se ligar a ninguém a força. Isto é considerado pelos tribunais do astral como desvio de carma e as sanções para aqueles que realizam tais trabalhos são as mais sérias possíveis.

• Cortando trabalhos de magia negra, pois não é permitido pela Lei Divina que as pessoas ou espíritos possam fazer o que bem entenderem, ainda mais ferindo o Livre Arbítrio alheio.

• Neutralizando correntes e trabalhos feitos para desmanchar casamentos.

• Trabalham incansavelmente no combate as hostes infernais, quando estas procuram atingir injustamente quem não merece.

• Trabalham no combate das viciações que escravizam os médiuns, protegendo-os das investidas do baixo astral, quando se fazem merecedores.

• Fazem à proteção dos Templos onde habita a Espiritualidade Maior, principalmente onde se pautam pelo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo.

• Combatem a leviandade, promovendo a firmeza que trás o respeito através do poder da palavra. Tais atributos e a harmonia de seus efeitos combinados, trazem a serenidade mental, onde os Sagrados Orixás atuam, pois quem não sabe o que pensa, não sabe o que diz.

• Trabalham incansavelmente fazendo de um tudo para que seus médiuns possam galgar graus conscienciais luminosos perante a espiritualidade maior, equilibrando-os, auxiliando-os, mas jamais são coniventes com os desmandos de seus pupilos, corrigindo-os, às vezes, implacavelmente, para que possam enxergar seus erros e retomarem a senda da Luz.

• A Guardiã Pomba Gira, como entidade de trabalho, não são e nunca foram espíritos lascivos, tenebrosos, viciados, atrasados e maldosos, como muitos querem doutrinar.

• A Guardiã Pombas Gira atuam no combate aos quiumbas (na medida do possível ajudando-os a evoluir) e no combate das energias desvairadas e viciantes; nas cobranças e nos reajustamentos emotivos e passionais; nas cobranças da Lei Divina (carma); nas emoções e nas ações dos indivíduos.

• As Guardiãs Pombas Giras conhecem profundamente os mais íntimos segredos dos seres humanos e que apesar dos absurdos em seus nomes, ainda assim, nos auxiliam a evoluir, esperando pacientemente à hora de nossa maturidade.

• A Guardiã Pombas Gira são valorosas Guardiãs da Antiga Sabedoria, da Tradição da Umbanda. Não são vulgares. São guerreiras, heroínas, protetoras e grandes magas.

Lembre-se que nenhuma Guardiã Pomba Gira jamais atua negativamente na vida de qualquer ser, promovendo desuniões, feitiçarias, magias negras, fofocas, maledicências e toda sorte de coisas ruins. Infelizmente a maldade é um imperativo humano. Quando um ser humano, negativamente invoca o poder da Guardiã Pomba Gira, não é a entidade em si que vai atender ao seu pedido maléfico, mas sim, a força Pomba Gira, força magnética ígnea telúrica, que vai ser acionada e utilizada. Seria a mesma coisa que utilizarmos à força elétrica; podemos usá-la para o bem ou para o mal. A força é a mesma, mas não tem vontade própria.
Vamos agora usar de um artigo maravilhoso (de autor desconhecido), adaptando-o, e encontraremos que é a fiel imagem da uma mulher. E isso é ser a Senhora Guardiã Pomba Gira:

SER GUARDIÃ POMBA GIRA….
• Ser Guardiã Pomba Gira é viver mil vezes em apenas uma vida, é lutar por causas perdidas e sempre sair vencedora, é estar antes do ontem e depois do amanhã, é desconhecer a palavra recompensa apesar dos seus atos.

• Ser Guardiã Pomba Gira é caminhar na dúvida cheia de certezas, é correr atrás das nuvens num dia de sol e alcançar o sol num dia de chuva.

• Ser Guardiã Guardiã Pomba Gira é chorar de alegria e muitas vezes sorrir com tristeza, é cancelar sonhos em prol de terceiros, é acreditar quando ninguém mais acredita, é esperar quando ninguém mais espera.

• Ser Guardiã Pomba Gira é identificar um sorriso triste e uma lágrima falsa, é ser enganada e sempre dar mais uma chance, é cair no fundo do poço e emergir sem ajuda.

• Ser Guardiã Pomba Gira é estar em mil lugares de uma só vez, é fazer mil papéis ao mesmo tempo, é ser forte e fingir que é frágil pra ter um carinho.

• Ser Guardiã Pomba Gira é se perder em palavras e depois perceber que se encontrou nelas, é distribuir emoções que nem sempre são captadas.

• Ser Guardiã Pomba Gira é comprar, emprestar, alugar, vender sentimentos, mas jamais dever, é construir castelos na areia, vê-los desmoronados pelas águas e ainda assim amá-las.

• Ser Guardiã Pomba Gira é saber dar o perdão, é tentar recuperar o irrecuperável, é entender o que ninguém mais conseguiu desvendar.

• Ser Guardiã Pomba Gira é estender a mão a quem ainda não pediu, é doar o que ainda não foi solicitado.

• Ser Guardiã Pomba Gira é não ter vergonha de chorar por amor, é saber a hora certa do fim, é esperar sempre por um recomeço.

• Ser Guardiã Pomba Gira é ter a arrogância de viver apesar dos dissabores, das desilusões, das traições e das decepções.

• Ser Guardiã Pomba Gira é ser mãe dos seus filhos e dos filhos dos outros e amá-los igualmente.

• Ser Guardiã Pomba Gira é ter confiança no amanhã e aceitação pelo ontem, é desbravar caminhos difíceis em instantes inoportunos e fincar a bandeira da conquista.

• Ser Guardiã Pomba Gira é entender as fases da lua por ter suas própria fases. É ser “nova” quando o coração está a espera do amor, ser “crescente” quando o coração está se enchendo de amor, ser “cheia” quando ele já está transbordando de tanto amor e “minguante” quando esse amor vai embora.

• Ser Guardiã Pomba Gira é hospedar dentro de si o sentimento de perdão, é voltar no tempo todos os dias e viver por poucos instantes coisas que nunca ficaram esquecidas.
• Ser Guardiã Pomba Gira é cicatrizar feridas de outros e inúmeras vezes deixar as suas próprias feridas sangrando.

• Ser Guardiã Pomba Gira é ser princesa aos 20, rainha aos 30, imperatriz aos 40 e especial a vida toda.

• Ser Guardiã Pomba Gira é conseguir encontrar uma flor no deserto, água na seca e labaredas no mar.

• Ser Guardiã Pomba Gira é chorar calada as dores do mundo e em apenas um segundo já estar sorrindo.

• Ser Guardiã Pomba Gira é subir degraus e se os tiver que descer não precisar de ajuda, é tropeçar, cair e voltar a andar.

• Ser Guardiã Pomba Gira é saber ser super-homem quando o sol nasce e virar cinderela quando a noite chega.

• Ser Guardiã Pomba Gira é acima de tudo um estado de espírito, é ter dentro de si um tesouro escondido e ainda assim dividi-lo com o mundo.



REVELAÇÃO DE UMA GUARDIÃ POMBA GIRA

Mensagem psicofônica da Senhora Pomba Gira Sete Encruzilhadas – Médium: Luely Figueiró

Nós andamos agitadas nas encruzilhadas, não estamos gostando do que certos escritores mal informados, que apenas cruzam pelos terreiros e que nem possuem a experiência de incorporação ou de trabalhos dentro da curimba de uma Pomba Gira, se arvoram em falar sobre nossa corrente, sobre nossos trabalhos.
Nos comentam como se fossemos lixo do astral ou menos espíritos apaixonados. Como se bastasse apenas nos oferecer elementos físicos, grosseiros materiais, para fazermos a vontade de todas as criaturas da face da Terra.

Pessoas que escrevem sem possuir o menor gabarito espiritual para comentar os mistérios da hierarquia de um espírito.
Nós estamos realmente agitadas no espaço que ocupamos e muito trabalhamos para formar a corrente deste aparelho, para que ela pudesse verdadeiramente receber a vibração e o ensinamento de todo o trabalho de uma Pomba Gira. Vocês não duvidem e não confundam as coisas que vocês vêem por aí. Aprendam se quiserem a ter o merecimento da proteção e do trabalho de uma Pomba Gira, seus giras.
Pomba Gira é gente já com gabarito de incorporação no exército divino, e quem já se encontra incorporado, como elemento deste exército, para a elaboração de evoluções maiores; não é sofredor nem lixo do espaço e nem desavisado e muito menos apegado a elementos tão físicos e baixos como querem nos apregoar.
Tenham mais humildade para aceitar as coisas do grandioso Senhor, que elabora no dia-a-dia a evolução dos universos siderais e não só o vosso.
Não pensais, pois, que sois o centro do universo, porque não sois não. Em todas as horas, em todos os momentos, o grande Senhor nos envia provas através, até mesmo, de aparelhos mediúnicos que nos deixam perplexos, bestializados com os que eles fazem como simples aparelhos e nada mais.
Porque eles são meros veículos de forças maiores; aqui, neste planeta, somos espíritos de certa envergadura, com milênios de aprendizado; nos chamam de Pomba Gira; poderiam ter-nos colocado outros nomes, não importam os nomes que nos tenham colocado.
Nós vos saudamos aqui na Terra, com esta indumentária; respeiteis e saibais compreender nossa natureza espiritual, para que não sejam publicadas aberrações que visem apenas ao comércio medíocre sobre o trabalho sagrado e santificante que traçamos para evolução de todos os paranormais em comunicação conosco.
Isto é de rara importância para todos aqueles que dirigem seus médiuns, seus filhos.
É de rara importância, queridos, que coloqueis sempre a vossa destra sobre os nossos enviados, filhos de Santo, com uma certa humildade e conhecimento de que todos os irmãos que se comunicam através de sua coroa são espíritos já incorporados num exército divino para elaborar uma tarefa de amor e fraternidade e de respeito por vossas vidas e não de desrespeito, porque este sempre parte de vós e não de nós.
Se existem nos planos do baixo astral desrespeitosos Eguns, é porque daqui partiram assim sem o merecimento de serem incorporados em nossas milícias. São esses pobres vagabundos do astral menor que necessitam mais de orações e caridade.
Vós, como chefes de terreiro e guias menores da Terra, que colocais sobre o peito montões de colares para assim serem reconhecidos, pois sois vós que devereis organizar os trabalhos. Sim, de mãos interpostas conosco, os irmãos do outro lado.
Para estes Eguns e sofredores, estes vagabundos, desairosos e desvairados dos espaços, sejam socorridos e não enlameados com vossos propósitos mesquinhos.
Muitas vezes, tomados por vossas vaidades, não sabeis reconhecer quem pisa dentro de vosso terreiro.
Aquele que é sofredor, aquele que é um mistificador de uma Pomba Gira verdadeira.
Porque a vossa vaidade vos cobre os olhos e vosso peito envergado de tantas “guias” não vos permite ver; cuidado…
Por hoje é só.

Dona Sete.

             Fonte: Texo cedido gentilmente por Pai Juruá. Trecho extraído do livro: Exus e Pomba Gira na Umbanda – Simbolismo e Função.

Estudem...


Estudem para melhor praticar a caridade!

Entre um instrumento mediúnico que não se instrui e outro que está sempre ampliando os seus conhecimentos, ambos com a mesma cota de amor no coração para servir ao próximo, qual terá mais valia para os espíritos desencarnados que os assitem, neste momento de expansão da consciência da comunidade umbandista?

Consciência é para ser assumida e não escondida.

Desse modo, aprenderão muito mais conscientes, com o guia "atuando" no psiquismo, do que com a insensata busca da inconsciência por métodos de iniciação artificiais que paralisam a evolução do médium.

Mediunidade mais "forte" não é a que "apaga" a mente do medianeiro, e sim a que acende a chama do pensamento, amparado pelo aprendizado constante entre nós, do Além, e vocês, cujos pés estão fincados na Terra.

Portanto, chegou a hora de evoluirmos juntos.

Os ponteiros cósmicos do relógio da Justiça indicam que o tempo em que o guia espiritual fazia tudo acabou.

Deixo aqui um afago amoroso deste "velho" pastor, para todos os filhos do planeta azul.

Caboclo Xangô das Sete Montanhas

sexta-feira, 1 de junho de 2012

O Arquétipo de Preto Velho

A discussão sobre os arquétipos da Umbanda é um assunto interminável, complexo e apaixonante, mas muitas vezes cai no erro de se atribuir um caráter extremamente simplista, quase sempre baseado apenas na primeira impressão deixada pela entidade analisada.
Como fruto dessa análise superficial, podemos citar, apenas para exemplificar, o processo de demonização sofrido pelos exus, valorosos trabalhadores do Astral, quase sempre injustiçados e vistos com maus olhos por aqueles que desconhecem completamente a Umbanda e até mesmo por muitos se dizem filhos dela, mas que tão pouco se preocupam em entendê-la, bem como às entidades que nela trabalham. Outro caso recorrente de equívoco quanto ao arquétipo ocorre com a versão feminina dos exus, as pombas giras, que muitos acreditam tratar-se de espíritos de prostitutas quando da sua existência terrena. Claro que sua postura sensual contribui para isso, mas nem toda mulher sensual foi ou é prostituta, como nem toda pomba gira também. Talvez essa espécie de “personificação” que imputam às entidades de Umbanda exista para facilitar a compreensão do leigo, mas o umbandista, que pratica e vivencia a religião e a toma como filosofia de vida, tem o dever de conhecer e entender melhor os tipos culturais, étnicos e psicológicos nela representados. Acreditar que o espírito da criança manifesta-se simplesmente para externar a pureza, por exemplo, é reduzir toda a sabedoria umbandista a uma conotação muito simples e frágil.
Dessa forma, aos pretos velhos, espíritos tão populares na Umbanda, a ponto de muitas vezes suas figuras serem usadas como ícones da religião, são atribuídas comumente duas qualidades: a humildade e a sabedoria.
A condição de escravo teria dado ao preto velho a postura sempre humilde, sentado em seu banquinho, com as costas arqueadas e falando baixinho, numa atitude típica de quem sabe que deve comportar-se adequadamente frente ao seu senhor. Já a sabedoria seria fruto da idade avançada e das largas experiências supostamente vivenciadas em Terra.
Mas seria o preto velho apenas isso? Um senil humilde e sábio? Todo o sofrimento de um povo, que deu seu sangue para a construção de um país estaria resumido a uma figura arqueada e humilde, porém sábia?
A História mostra que a saga do povo negro é repleta de lutas, então, relegar o preto velho a uma condição praticamente submissa é negar o passado desse povo. Insistir na idéia de que o preto velho é somente sábio e, principalmente, humilde, é querer perpetuar um passado de injustiças, a ponto de querer manter o negro, mesmo já estando na condição de espírito, como um ser subserviente e amedrontado.
Basta estudar a História para entender que o negro não teve uma postura humilde e submissa o tempo todo. O maior ícone dessa etnia em nossa história, Zumbi dos Palmares, é também a representação de um povo que não se rende à força bruta da escravidão. Exemplo de liderança, resistência, coragem e luta, Zumbi ainda hoje é lembrado e festejado em todo o Brasil como o representante de um povo que não se entrega facilmente.
Não é somente na história do Brasil que encontramos exemplos de resistência dos negros frente à opressão: Nelson Mandela, Martin Luther King, Malcon X, Agostinho Neto e outros tantos, o que nos leva a concluir que o povo afrodescendente não tem como hábito quedar-se passivamente frente às injustiças e às imposições.
A própria mentalidade européia, incutida em nossas mentes ao longo do processo de colonização e perpetuado mesmo após o desligamento do Brasil com as amarras portuguesas, nos impôs a falsa impressão de que o negro (e também o índio) são seres pouco civilizados e frágeis de espírito e discernimento. Eis aí um gigantesco e medonho engano. Essa visão paternalista às avessas nos remete à falsa impressão de que as etnias não-européias são frágeis e necessitam da proteção civilizatória que o estereotipado tipo europeu poderia dar. A realidade é que por trás dessa visão aparentemente inocente e provida de caridade existe uma feroz intenção de dominar econômica e ideologicamente todo um povo e aniquilar sua cultura. Não fosse a coragem, a determinação e o espírito de resistência do povo negro, e isso já teria acontecido. Toda a riqueza cultural do chamado continente negro teria desaparecido e seu povo seria mão-de-obra barata e nada mais.
Assim, acreditar que o arquétipo do preto-velho se resume a humildade e a saberia é desprezar todo o seu passado de lutas. O preto-velho possui sim a humildade, mas a humildade dos sábios, e não subserviência daqueles que se entregam facilmente. Acima de tudo o preto-velho representa o vencedor, que mesmo diante de toda violência que sofreu, soube resistir e manter viva a sua cultura e a chama da sua fé.
O preto-velho é também o símbolo da resistência, da luta e do vencedor.
Douglas Fersan

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