Algumas vezes já estive por aqui escrevendo sobre Umbanda. Como se escreve sobre Umbanda, não? Como se debate a Umbanda, como se diversifica a Umbanda, como se entrecruza e astraliza a Umbanda...
Mas, já paramos para pensar nos adeptos, frequentadores e fiéis? O que pensam ser a Umbanda? Eu, como umbandista praticante me vejo plenamente envolvido com minha religião, pronto para defende-la com unhas e dentes dos ataques preconceituosos de outras ditas religiões e de pseudos pesquisadores antropológicos que só querem enfraldar mais e mais suas teses, sem ter um mínimo de noção espiritual da mesma. Diga-se de passagem, essa defesa de unhas e dentes não adensa tanto a vibratória a ponto de partirmos para confronto físico ou de linguagem xula, mas sim com a propriedade que o estudo da minha religião me deu, onde podemos, embasados numa fé racional, debatê-la sem perdermos o rebolado.
Mas, o mais complicado é lidarmos com nossos irmãos de fé. A Umbanda não tem uma unificação... Graças a Deus, pois o que apareceriam de candidatos ao papado na Umbanda seria sem fim.
Mas, por conta disso, há um bel prazer em sua prática que foge completamente a espinha dorsal colocada como pré-requisito pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas.
Essa espinha dorsal tem apenas 5 vértebras:
. Vestir o branco → Vemos terreiros que mais se parecem com os antigos desfiles carnavalescos no Hotel Glória, onde Clóvis Bornay e Mauro Rosa conquistaram notoriedade nas festas do Momo, com suas criações de Libélula Ensandecidos no Alvorecer ou Pierrot Deslumbrado no Arco Íris de Isis...
. Usar os elementos da Natureza → É verdade, usam-se todos os elementos da Natureza possível, mas, atuando na Natureza “dificilmente” se encontra o bom senso que nos diz para não compactuarmos para a destruição da Natureza, emporcalhando todas as ruas, praias, matas e até portas de cemitérios que, já não basta a “sombriedade” local, o povo ainda tem que conviver com pipocas e afins. Penso, como também penso referente a mim, como deve ser desagradável para um católico, budista ou judeu ter que desviar de padês monumentais nas esquinas de nossa cidade.
. Não cobrar → Faz-me rir... Pois o que mais se vê por conta disso é cobrança... E tem lugares que dizem “não cobramos consultas”, mas na hora da dita consulta o “Guia” ou Pai/Mãe de Santo aparece com uma lista de trabalho homérica, cobrando, não pela consulta, mas pela feitura do tal trabalho e... Pasmem... Muitos ainda cobram o “chão” do lugar para o trabalho. É, sublocam a Casa de Deus... Isso se Ele não se mudou, ao ver o que fizeram com seu “imóvel”. Já dizia Jesus: “Vendilhões do Templo!” Isso sem contar sobre os “Ogãs Profissionais” que cobram para “baterem” tambor em determinadas casas que, coitadas, em véspera de uma Festa importante, gostariam de ter um Ogã em sua corrente para dar mais vibração e beleza ao ritual programado. Parece que o sujeito tá cobrando cachê: “Minha apresentação é tanto...”. Pior ainda é o nome que dão a isso: salva. Salva quem? Salve-nos, Senhor!
. Não matar → Pois é... Na véspera da Festa de Exu do Cruzeiro da Luz, estava eu descendo a Grajaú-Jacarepaguá e desconfiei que havia no seu final, já em Jacarepaguá, uma granja... Mas, descendo devagar, pude perceber que as 15 a 20 supostas galinhas que estava vendo, jaziam mortinhas dentro de um big alguidar de barro, com uma purinha ou uma cidra ao lado. É, menos um punhado de galinha no mundo... Fora os bodes, cabritos, pombos e afins. Mas isso não é matança não... O nome é sacrifício... Rs... Vai rindo, sacrifício? Jesus quer Misericórdia! E se é para matar alguma coisa, que seja, como o Apóstolo Paulo nos ensina: “matar o homem velho...”, oferendando-o ao Cristo para que, imolados pelo seu Infinito Amor,“...renasçamos homens novos”! Se essa fosse a matança seria maravilhoso... Pois mataríamos, sem dó nem piedade, todas as nossas iniquidades, mazelas, mal querências, mas essas, longe ainda da extinção, preservamos no cativeiro do coração e mente, procurando criá-las “in vitro”, perpetuando as espécies para que cada vez mais nos aprisionemos à roda das encarnações.
. Evangelizar → Nossa! Esse é o desafio primevo de todo aquele que, mesmo que não totalmente desperto, já foi tocado pelas valorosas letras do legado do Cristo. Talvez seja esse o maior embate... De todas as religiões!... E o motivo único para que estas existam, pois evangelizar é religar o homem a Deus. Portanto, a religação se dá por meio da auto-evangelização e, por conseguinte, da evangelização. Por que auto-evangelização? Por que... Quem somos nós se não nos evangelizarmos? Apenas "macumbeiros". Apenas magistas de 5ª categoria. Apenas fantasistas sem lei e sem juízo algum, radicados na senda do fanatismo religioso e na crendice mística dos fugidios da verdade que liberta. Daí a necessidade emergente de nos evangelizarmos... De criarmos em nós a nuance do amor notável de Deus, que se perdeu no elo do mundo, pois seduzidos pela bola azul esquecemos que quem a criou, a fez por um ato de amor único e restabelecedor deste amor nos corações dos habitantes dessa bola azul. E digo mais... Que espécie de médiuns somos ou seremos sem o evengelho? “Cegos guiando cegos”. Marionetes (não dos bons espíritos) fazendo receitas mágicas e indicando trabalhos e oferendas vãs, pois sem conteúdo algum, tornando-se atos mecanizados no afã de resolução de problemas. Problemas externos, da vida, do mundo, da matéria. Pois não evangelizado jamais conseguirá mergulhar na alma daquele que o busca e oferecer-lhe ajuda verdadeira. Dará paliativos apenas, criando um elo vicioso, onde quando terminada a validade da magia o “cliente” retorna para a renovação de seus “votos petitórios”. Como evangelizar se não conhecemos Jesus ainda? Se não nos tornamos íntimos do Mestre dos Mestres e permitimos que Ele faça, primeiro em nós, o milagre do retorno à origem genética divina, expurgando, gradativamente, o gene adquirido pelo mundo? É um trabalho diário que não se dá apenas nos dias de atividades dos Templos. É cotidiano. Sendo feita essa reflexão que deve sair do papel para a vida, vem o serviço desinteressado da evangelização. Aí sim, podemos evangelizar, apresentar Jesus às pessoas, citar suas palavras e convidarmos a seguirem, junto conosco, as suas pegadas, mediante seus ensinamentos eternos. Paulo diz que “evangelizar é preciso, quer desagrade, quer desagrade...”.
Ué? Quer desagrade? Sim, infelizmente é verdade, pois esta, a verdade, ao mesmo tempo que liberta, faz doer. Dói porque somos fugidios, nos acovardamos, nos tornamos procrastinadores (hahaha...adorei essa! Adorei as Almas!), vendo o bem que queremos (mas nos julgamos diminutos) e fazemos o mal que não queremos (com a boca cheia d’água!). E quem gosta de ouvir da boca de outro que ainda é cheio de mazelas e totalmente imperfeito, sem pieguismo? Pois é... Mas, diz um grande amigo espiritual que a verdade dói apenas uma vez... Acabada a dor, estamos libertos. Enquanto que, fugindo da verdade, optando pela mentira, estamos fugindo dessa dor do parto libertador. Mal sabemos que fugir é uma dor, e muito mais dores e sofrimentos virão pela frente, pois a mentira e a fuga se tornam vício frenético...Ou seja, vamos ao Cristo:“conhecereis a Verdade e esta vos libertará”!
É triste vermos em Centros onde o propósito é levar as pessoas a essa libertação, vermos as mesmas pessoas tentando barganhar essa libertação, fugindo, se esgueirando, desviando-se das sementes do evangélico como um Matrix sombrio... É lamentável vermos um Guia lançar suas sementes e o solo que se encontra a sua frente rachar-se, como terra árida sob o sol, dizendo: “o senhor poderia ser mais sucinto, dizer logo o meu problema...e resolve-lo!”. Nem imagino o que o Guia deva sentir e pensar, pois meus degraus ainda não chegaram aos deles, uma vez que eu bem sei, no afã da emoção de uma partida de futebol eu “gostaria” de dizer... Aliás, imagino sim... Rs... Me lembrei de Jesus pregado à cruz: “Pai, perdoa-os...eles não sabem o que fazem”!... É o que fazem, o que dizem, o que pensam, o que comem,...
Contudo, diante desse pequenino relato, me coloco também reflexivo, pois esse exemplo vem de um “adepto” dos terreiros espalhados no “por aí” de meu Deus... Mas e o que pensam os que se encontram dentro desses mesmos terreiros, como trabalhadores desses terreiros? Será que, ouvindo isso, se chocarão e entrarão em prece para que a pessoa desperte para a realidade? Ou será que, vendo essa pressão do “resolve meu caso”, não se deixa levar pela falta de senso comum e se permite a permitir que essa pessoa ouça o que ela quer? Daí, surgem as invencionices e as adivinhações baratas... E joga-se um mediunato fora.
Então, voltando ao início, enquanto os próprios umbandistas crerem que a religião professada é uma quitanda de quebra galhos, nós nunca conseguiremos sermos olhados como religião e religiosos. Vamos ouvir: “O quê, sacerdote umbandista? O que é isso? Só conheço Pai e Mãe de Santo!... lá no teu centro é assim”? Isso quando não nos chamam de seita... Ou palavrinha que me entristece, pois dá uma sensação de bruxaria, de feitiçaria, de fundo de porão, cozinhando asa de morcego e orelha de rato.
É como diz um Guia Espiritual do Templo: “Enquanto lutamos tanto para elevar o tônus vibratório – evangelizar e libertar – há um mercado paralelo dentro da religião que insiste em que cresçamos como rabo de cavalo... Para baixo”!
E baseado nesse mercado paralelo penso, pois sou produto do meio (a diferença é buscarmos nos situar no meio certo desse meio), qual o motivo de sua existência? Preguiça? Vaidades? “Obtusismo”... Rs? Carências? Falta de estudo, doutrina? Ou será que também veem a Umbanda como uma enorme quitanda, pronta para preencher as dispensas quando falta açúcar, café ou leite?... Daí, vamos à quitanda! Será que pensam que os Mentores são os chamados “santos” que damos de comer e pronto, eles ou resolvem nossos problemas ou se acalmam, nessa ininterrupta barganha entre o mau e o mal.
Toda a beleza da Umbanda cai por terra quando vemos desorganização. Quando vemos indisciplina, quando vemos falta de estudo e doutrina. Quando vemos falta de religiosidade. A Umbanda é religião e não um mercado persa! A Umbanda é o Conjunto das Leis de Deus e não um conjunto de pagode! A Umbanda, como disse o Caboclo das 7 Encruzilhadas, “é a manifestação do espírito para a caridade” e não para trazer a pessoa amada em 1 hora e meia, muito menos dar emprego pra todo mundo.
Ouvirmos pessoas dizerem que vão à missa e a centros kardecistas para ouvirem palestras e se postam diante do guia para pedir, entristece a alma. Pensamos assim: “pobre pessoa perturbada...”! Desculpem-me, mas perturbados somos nós! Perturbados e comprometidos até os dentes perispirituais porque oferecemos, seja quem foi ou onde foi, em algum momento, um motivo para que essas pessoas pensassem que a Umbanda presta é para isso: resolução de problemas ou vermos se se tem “algo feito” ou obsessor. Talvez por isso que ouçamos pessoas dizerem para um Exu, que está ali exaustivamente tentando evangelizar a pessoa: “se o sr. me ajudar, vou rezar pro sr. ter luz e deixar de ser Exu”! ... O melhor de tudo foi o Exu rir e na Gira seguinte ele dizer para a mesma pessoa que a reza dela estava fraca, pois ele “continuava Exu”... Só fazendo graça mesmo, pois o que de graça recebemos, de graça, com gosto e amor devemos dar!
A culpa é desses fiéis, desses neófitos da religação com Deus? Ou de quem os ensinou ou os viciou a serem assim, a procurarem as Casas Umbandistas atrás desses tipos de conchavo? E quem lhes viciou são que tipo de pessoas? São adeptos de quais religiões? Óbvio que aprenderam isso dentro dos nossos terreiros! E se aprenderam isso em nossos terreiros, pertencem aos nossos terreiros, são umbandistas (embora quando pense nisso, logo me lembre do Capitão Nascimento, de Tropa de Elite: “Nunca serão!”)! Mas, para fazerem isso, alguém, um dia, abriu um precedente, um favorecimento, uma permissividade, um clientelismo.
A Umbanda evangeliza, liberta, desinstala da ignorância, descongela as mentes submersas na obscuridade da ignorância,... Mas falta o umbandista “praticante” ter idéia do que é isso. Falta ele acreditar que a religião dele é uma religião e que ele não faz obrigação ou cumpre carma. Falta ele saber que tudo que se faz dentro de um Templo Umbandista é um ato de amor e, por conta disso, ele precisa estar amando e se amando, como Jesus nos ama... Óbvio, guardada as devidas proporções... Rs... Mas Ele é o modelo a ser seguido, por isso, proporções uma vírgula! Busquemos sim, viver no amor de Jesus e amar como Ele amaria. Se não dá... Tá distante de compreendê-lo, Paulo tá aí dizendo: “sede meus imitadores como eu sou do Cristo”.
Mas Paulo é Guia? Não é Caboclo, Preto Velho, Exu ou Criança, diria o “aficcionado” pela letra que mata, aproveitando também para matar o espírito que vivifica.
É, umbandistas, se ainda pensamos que nossos Caboclos são Pataxós, Xavantes ou Cherokees; ou que Pai Joaquim era aparentado do Zumbi dos Palmares; Malandrinho mora na Lapa; ou que Pedrinho da Praia é uma criança por que morreu afogado numa Colônia de Férias na praia do Leme... Estamos muito bem servidos de fantasias, superstições e crendices! E pior... O que ofereceremos para as pessoas que batem às nossas portas? Mentiras, vaidades e grilhões?
Vale lembrar de Jesus... Sempre: “a quem muito é dado, muito será cobrado”! ou seja, seremos chamados para prestarmos conta do que ensinamos, das libertações que auxiliamos Jesus a fazer, enfim... De toda a nossa colheita, afinal a semeadura é livre, mas a colheita é e será sempre obrigatória.
Ah, como seria bom se cada um de nós umbandistas conseguíssemos contrariar a estatística que André Luiz fez um dia, em sua literatura sobre os médiuns em geral, dizendo que o Umbral está repleto de médiuns fracassados! Fracassados por violarem seus compromissos de levar à humanidade a palavra libertadora e rediviva de Jesus.
Não, infelizmente ficam sedimentando na cabeça das pessoas que devemos morar em Nosso Lar, Lar de Celina, Aruanda e etc... Quando essas “localidades” devem ser, no peito do espírito arfante de crescer e ser liberto, locais de passagem apenas. Dure essa passagem o tempo que precisar, mas que não ousemos pensar nelas como tenda permanente. Seria pensar pequeno. E pequeno é tudo que Deus não é.
Aí, como o Apóstolo dos Gentios em sua Epístola a Timóteo, poderemos dizer aquelas tão lindas palavras, um cântico do dever cumprido e a Graça alcançada por essa Graça ter nos bastado ao longo da vida, quando morremos homens velhos e renascemos homens novos...
... “Combati o bom combate, encerrei minha carreira, guardei a fé... Só me resta agora receber a coroa da justiça! Do justo juiz, o Senhor Jesus”!
Ah, como quero poder dizer isso um dia... Eu, um foguinho...
Saravá, Jesus!
Pai Julio (Pai Pequeno do T.E. Cruzeiro da Luz )